Exposição de Homenagem à Cadeira Portuguesa
Professores da Lusófona expõem em Cascais
18.12.15 - 00h00Cadeiras metamorfoseadas por criativos nacionais prestam homenagem à Cadeira Portuguesa numa exposição que estará patente até ao final de janeiro de 2016 na Casa de Santa Maria, obra maior do arquiteto Raul Lino em Cascais.
A exposição tem o apoio do curso de Design da Universidade Lusófona e conta com a participação de docentes e dos diretores das licenciaturas em Design da Lusófona de Lisboa e do Porto.
Veja a reportagem realizada na exposição e as entrevistas ao diretor da licenciatura em Design da ULHT Jorge Carvalho, à professora Catarina Castel-Branco e ao diretor de Design de Comunicação na ULP Nuno Ladeiro, também diretor da exposição.
A exposição
Sobre a Cadeira Portuguesa | É uma das mais características cadeiras das esplanadas portuguesas. Desde sempre, intelectuais, artistas e cidadãos comuns trocam opiniões e convivem nas esplanadas. Os turistas, por sua vez, procuram pontos de interesse e encontram nas esplanadas portuguesas e, em particular, nos cafés lisboetas o ambiente tipicamente lusitano. As primeiras cadeiras terão surgido em Lisboa nos anos 30 e 40 do século XX. Influenciada provavelmente pela escola alemã Bauhaus, mas também pelas cadeiras de tubo de aço curvado de alguns dos pioneiros do design, como Marcel Breuer, Mies van der Rohe e Mart Stam editadas pela Thonet, a fábrica Adico, uma das maiores empresas de mobiliário metálico europeu, desde os anos 30 até aos dias de hoje, produz a cadeira. Como exemplo, temos as capas dos catálogos desenvolvidas por pintores de renome da época. Com 95 anos de existência, exporta a Cadeira Portuguesa para países tão longínquos como os do norte da Europa, Estados Unidos e Austrália, entre outros. A Cadeira Portuguesa é parte de uma vasta coleção de clássicos que fizeram história na Adico ao longo dos anos e nunca perderam a dinâmica dos novos tempos, pois souberam acompanhar a evolução do mercado e estar na moda.
Professores do Curso de Design que participam na exposição
Filipe Trigo
Cadeira "Less is more"
Legitimado que estava, "oficialmente", a infligir uma "agressão" à cadeira 5008, decidi, à priori, fazê-lo da forma mais contida que me fosse possível. Há mais de quarenta que me sento na cadeira e lembrei-me que sempre me irritou ter de usar os dois braços para a movimentar!
Com base nesse problema por mim detectado, decidi intervir no assento e, com isso, permitir que a mão pudesse agarrar-se ao lado inferior do quadrilátero dos painel das costas, transformando-o numa pega. Retirando material, acrescentou-se uma nova funcionalidade conseguida apenas pela supressão de material existente no modelo original, sem acrescentar nenhum elemento/peça nem alterando a cadeira no seu todo.
Daí a vir-me à memória a "frase batida" nos meios da atividade do Design - "less is more" - foi um ápice. Depois, comecei a olhar para as duas esplêndidas superfícies brancas que a cadeira me oferecia. Pareceram-me duas folhas brancas de papel a que não consegui resistir. O minha faceta de comunicador visual falou mais alto. A frase referida foi transformada: uma frase retórica que resume e tipifica uma determinada atitude na atividade projetual, transformou-se numa mensagem de intervenção social no campo da igualdade de génros: "top less is more equal". Na procura de uma forma gráfica facilmente memorizável, introduzi uma outra valência que foi ajudada por recurso a símbolos matemáticos (-, +, =), conferindo-lhe uma lógica de charada e convindando a um exercício mental de carácter lúdico.
Nuno Ladeiro
Redesign Cadeira Portuguesa
Em 1926 Marcel Breuer criou a famosa cadeira Wassily em tubo de ferro curvado, revolucionou a técnica e a estética das cadeiras da sua época. Foi um grande passo no desenvolvimento de uma nova forma, que proporcionou uma nova aventura estética.
A cadeira portuguesa adaptou essa nova tecnologia à realidade portuguesa. Assim surgiu uma das mais icónicas cadeiras portuguesas.
Redesenhar a Cadeira Portuguesa foi um desafio enorme. A nova cadeira mantêm a estrutura original de tubo curvado mas com uma nova tecnologia, de polipropileno injetado através do sistema de injeção Air Molding. O tubo de polipropileno também curvado e o encosto ligeiramente reclinado conforme a cadeira original mantêm no essencial a identidade da cadeira portuguesa mas agora muito mais leve.
Editor: Colico, Itália
Jorge Carvalho
Dalmata
Dar-lhe um nome. Transformar tipograficamente a palavra DALMATA com a subtil deslocação da posição de uma letra, alargando assim o sentido da leitura e passando a ser a cadeira DALMATA.
Com esta cadeira pretende-se preservar a memória do nosso fiel amigo, animal de estimação que nos acompanhou durante uma vida, associando a sua imagem ao objeto do sentar "cadeira portuguesa", que reencontramos em jardins e esplanadas por todo o Portugal.
Uma cole cão para crescer.
Juntar a cada cadeira a imagem de um cão, e jogar no trocar ou ocultar letras, vai permitir a cada um reencontrar-se e encontrar numa cadeira portuguesa o seu animal de predile cão, associado à sua personagem.
Assim teremos:
- Serra da Estrela;
- Labrador;
- Doberman;
- Pastor Alemão;
- Galgo;
- Pincher;
- Perdigueiro.
Rui Luiz
Lisboa
Caracterização da cadeira existente:
Expressão visual acentuada, comportamento térmico inadequado,escorregamento no sentar, deficiente apoio lombar.
Participação:
O modelo fornecido e o histórico possível, conduziram ao Redesign como a melhor opção para a respetiva homenagem.
Conceitos.
As identidades; da forma, o "rosto" da cadeira Portuguesa; Lisboa na superfície, a comunicação, os usos, o tempo, o materiale a cor.
Descritivo
O "rosto" da cadeira, a estrutura conceptual, forma, material, uso, função, produção e a imagem, no espaço e no tempo, conduziram ao desenvolvimento de uma estrutura conceptual similar, mais, "lounge", versátil na relação e no uso com espaços interiores e exteriores através de superfícies opcionais associadas ao sentar.
A estrutura reduzida na sua expressão, em tubo de aço de diâmetro inferior, enfatiza continuidade linear e a justaposição autónoma das superfícies para encosto e assento. Estas, associadas na expressão da identidade à cidade de Lisboa, materializadas com diferentes materiais, permitirão adequada resposta ergonómica, uma nova imagem, uso e aplicabilidade diferenciadas.
Catarina Castelo Branco
Por dentro da paisagem
Inspirada no exterior aonde a cadeira portuguesa viveu e vive.Recriei uma nova imagem a que chamei "por dentro da paisagem". Tal como o escultor que retirou ao bloco de pedra o excesso que lhe permitiu fazer surgir a obra, retirei da paisagem a cor e as formas das camadas de sedimentos, que surgem do interior da terra posta a descoberto. A cadeira das esplanadas e dos jardins "retirada" assim da terra, será transportada para novos espaços. Recriará uma paisagem outra, a imagem apropriada em qualquer ponto do globo que fará perdurar a memória do viajante.
[Texto editado em dezembro de 2016]