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Conversas à Mesa | Mafalda Patuleia

Mafalda Patuleia, directora do Departamento de Turismo da ULHT, foi a convidada do Conversas à Mesa

11.07.18 - 00h00


Mafalda Patuleia, directora do Departamento de Turismo da Universidade Lusófona, foi a convidada do Conversas à Mesa que decorreu no restaurante In Fusion, no Lutécia Smart Design Hotel.

Geralmente a hora de almoço de Mafalda Patuleia é passada em frente ao computador, a comer uma salada trazida de casa, enquanto despacha algum trabalho. Mas também gosta de excepções, como a que fez para esta conversa à mesa no restaurante IN FUSION, do Lutécia Smart Design Hotel.

Passa os olhos pela carta, mas não se importa que seja eu a escolher. Até prefere. "É das coisas que mais gosto que façam, adoro chegar a um restaurante, passar os olhos pela carta e alguém dizer é isto, isto e isto. Não me ralo nada. Já decido tanto na vida, gosto que façam estas coisas por mim", confessa.

A conversa começa pelo início de vida. Mafalda nasceu na Maternidade Alfredo da Costa. A mãe, de Setúbal, e o pai, do Bombarral, conheceram-se na Pastelaria Mourisca, em Lisboa. Tiveram dois filhos, Mafalda é a mais velha. Viviam no Lumiar, depois mudaram-se para a Portela. Os locais para viver eram escolhidos em função dos colégios que os pais queriam que frequentassem. Primeiro, o São João de Brito, e depois o colégio Valsassina.

As melhores recordações de infância são, sobretudo, do colégio São João de Brito, que frequentou entre 1975 e 1979. Mafalda era uma aluna média, mas bem comportada. Dividiu a infância entre a vida na cidade e os fins-de-semana passados no Bombarral.

No 10º ano, já no liceu da Cidade Universitária, decidiu que queria ser advogada por causa da disciplina de administração pública. "Mudei radicalmente a minha postura perante o ensino, comecei a ter notas interessantes para entrar na universidade".

Quando chegou ao 12º ano mudou de opinião. "Conheci uma amiga da minha mãe que tinha estudado Turismo no Instituto de Novas Profissões (INP) e trabalhava numa agência de viagens. Numa conversa ao jantar, falou-me de turismo de uma forma tão apaixonada que aquele momento mudou-me completamente e pensei: é isto que eu quero".

Concorreu ao INP, mas não entrou, devido ao nível de "exigência do alemão". Embora triste pelo resultado, não baixou os braços e passou o ano seguinte a estudar inglês e alemão. Acabou por entrar no curso de Turismo "com óptimas notas", em 1989. Completou o bacharelato, o único grau existente, e fez amigos para a vida.

No final do curso fez um estágio na TAP, entrou como assistente de bordo, mas devido aos problemas de asma e renite alérgica, rapidamente veio para terra e foi oficial de placa. "Da minha turma ninguém ficou. Tive imensa pena, achava que aquilo era o que queria fazer. Fiquei muito triste, sou muito dedicada aos projectos, sei que a seguir vem qualquer coisa boa, mas custa-me sempre. A mudança sempre foi algo que me custou", reconhece.

Acabou por se dedicar à formação em línguas. Até que um dia recebeu um convite de um antigo secretário Estado para trabalhar no governo de António Guterres. Trabalhou no ministério da Administração Interna, com o secretário de Estado Adjunto da Administração Interna e, depois, na residência oficial do Primeiro-Ministro, António Guterres. Entrou em 1996 e saiu em 2001 para o INP.

"Foi um período fantástico, essencialmente comecei como secretária e continuei a desempenhar a função, mas a fazer notar o meu interesse pelas viagens e por toda aquela dinâmica que normalmente eram as agências de viagens que faziam, mas queria ser eu a fazer. Mostrei que sabia fazer e comecei a coordenar as deslocações que se faziam e os protocolos inerentes", recorda.

Em 1996, voltou ao INP, numa altura em que já existiam as licenciaturas. Pretendia completar dois anos de ensino para obter a licenciatura do curso de Turismo. Foi nesse regresso, já em 2000, que recebeu o convite da docente da disciplina Estética Contemporânea, que era também filha do director do INP, Carlos Amaro, para leccionar e assessorar a direcção do instituto.

Mafalda, cuja família materna estava toda ligada ao ensino, não teve dúvidas em aceitar o desafio. "O genes do ensino sempre estiveram comigo, eu estudava a dar aulas, tinha um quadro de ardósia e os meus pais dizem que me ouviam a dar aulas e eu escrevia a matéria toda no quadro", recorda.

A primeira disciplina que leccionou foi Circuitos Turísticos. Nunca tinha abordado o tema e, por isso, esteve um ano inteiro a estudar horas a fio para conseguir dar a disciplina. "Posso dizer que não sei quem estudou mais: se os alunos, se eu. Esta é uma característica minha: se aceito um desafio, é para levar até ao fim, como deve de ser".

Das coisas que mais gosta no ensino é acompanhar a evolução dos estudantes. "Ser aluno é algo muito complexo, não é só aprender e debitar a matéria, é crescer enquanto pessoa, gosto de dar aulas ao primeiro ano e depois voltar a dar no terceiro. É absolutamente extraordinário", afirma.

Por ter esta visão, também sabe que o seu papel vai muito além da matéria leccionada. "O que sinto no ensino e nos jovens é que, cada vez mais, tenho de ser também educadora", defende. "Este desafio não é fácil para um professor. A consolidação dos estudos implica tempo, dedicação, e o que vemos, hoje em dia, é que os alunos saltam de matéria em matéria e de assunto em assunto rapidamente. Mas também quero dizer-lhe que não gosto de ter esta postura crítica perante a sociedade. Gosto de ter capacidade de me adaptar a ela. Vou dar-lhe um exemplo: não consigo perceber a diferença entre uma Universidade e um Politécnico, ou seja, não consigo perceber como é que uma Universidade ainda consegue somente transmitir a ideia da necessidade da reflexão e não aplica a prática. As leis que regem a educação têm de se adaptar".

Assumiu a direcção oficial do Departamento de Turismo do INP pouco antes de terminar o doutoramento, em 2013, rapidamente passou a assumir a direcção do departamento de Turismo da Lusófona e foi convidada para directora do INP. Acumula as funções e ainda tem tempo para dar aulas, o que implica muita organização.

"Não me imagino a fazer outra coisa. Tenho conhecido muitas pessoas que me perguntam se não gostaria de fazer outras coisas, mas não me vejo a fazer outra coisa, se não isto. Estou dedicada exclusivamente a um grupo privado, ao grupo Lusófona, já tive outras solicitações, mas gosto imenso da trabalhar na Lusófona, aquela expressão da camisola vestida, eu tenho-a até aos pés", afirma.

Para Mafalda Patuleia, o maior desafio actual do ensino na área do Turismo é o reconhecimento da profissão. "Até que ponto o mercado de trabalho está preparado para reconhecer esses mesmos profissionais. Esse, para mim, é o grande desafio. Até que ponto as entidades patronais estão dispostas a reconhecer os seus profissionais", questiona.

Vida privada

Tem uma filha de 16 anos, Madalena, com quem tem uma relação muito próxima e cúmplice. "Fazemos imensas coisas juntas. Curiosamente quer ir para gastronomia, já tem um fascínio por Turismo e por Hotelaria. Estou a passar, sem querer, bom não sei se é sem querer (risos), esta vontade. Ela é uma boa menina, não me dá dores de cabeça, só quando chega atrasada quando vai sair à noite, mas isso são dores de cabeça normais dos pais com filhos nesta idade".

Trabalha 12 horas por dia, o tempo que lhe resta é "para ler ou então ver um bom filme, que é aquilo que me descontrai ao final do dia". Férias? "Aí vingo-me. Passo sempre férias em Vale do Lobo com a Madalena, tenho lá um grupo de amigos. Há dois anos, tenho feito aquelas viagens a sério de duas semanas. Há dois anos fiz as Ilhas Caimão, Cuba e Miami, no ano passado fiz Tanzânia e Zanzibar".

Adora Lisboa, mas "se surgisse um projecto aliciante fora, porque não?" Mas sempre com a perspectiva de regresso.

Mafalda tem nome de revolução, a "Guerra da Patuleia", nome dado à guerra civil desencadeada no século XIX, na sequência da Revolução da Maria da Fonte. Gosta de projectos e de ideias. Talvez, por isso, valorize "imenso a competência agregada à humildade e à criatividade" como características nas pessoas. Também aprecia a resiliência, não baixar os braços e ir à luta.

Se da mãe herdou o gene do ensino, do pai herdou o sentido de responsabilidade e liberdade. Como docente, aplica o lema: para a máxima liberdade, a máxima responsabilidade. "Dou tudo o que posso dar, mas exijo tudo o que posso exigir. Não existem turmas insubordinadas. É como um líder de uma empresa ou um gestor, se a sua equipa não for boa, é porque não está a fazer algo bem. Estamos perante uma geração altamente criativa e com uma dinâmica para outras coisas que não estávamos habituados, é uma verdade. Temos um ensino muito bom, mas temos alunos muito bons também".

Tem algum sonho? "Nunca pensei nisso". Ao fim de uns segundos a pensar, responde: "Sou feliz com o que tenho, estou a viver um momento tão bom na minha vida do ponto de vista profissional, que me preenche tanto e me dá tanto alento, que não penso em sonhos. Oiço os meus amigos dizerem que gostavam de se reformar. Não quero nada disso para mim, estou tão bem como estou e com a gestão que faço da minha vida, tenho tempo para trabalhar 12 horas por dia, para ter duas semanas de férias. A pergunta que me poderia fazer é se sou feliz. Sou mesmo muito feliz".

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