Catálogo raisonné da fotografia estereoscópica de Carlos Relvas
Produzido pelo centro de investigação CICANT da Universidade Lusófona.
16.06.21 - 00h00Será lançado no próximo dia 18 de junho o catálogo raisonné da fotografia estereoscópica de Carlos Relvas (1838-1894), o fotógrafo português mais conceituado e premiado do século XIX. Este projeto é um marco assinalável na preservação e divulgação do património fotográfico português, assim como um ponto de viragem para a consolidação da fotografia na oferta europeia das humanidades digitais. Produzido pelo centro de investigação CICANT da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, o Carlos Relvas Stereo Raisonné, é um catálogo online que reúne pela primeira vez dez coleções públicas e privadas de fotografia estereoscópica de Carlos Relvas, associando-as com os seus respetivos negativos conservados durante mais de 150 anos pela Casa Estúdio Carlos Relvas na Golegã.
O Carlos Relvas Stereo Raisonné é um projeto pioneiro na História internacional da fotografia estereoscópica pelo facto de associar a investigação histórica em arquivos, museus e coleções privadas com uma curadoria digital que permitiu agregar coleções físicas dispersas geograficamente, associando-as com os seus negativos em colódio húmido - espécimes raros, e muito pouco estudados da fotografia do século XIX. Estes têm na estereoscopia uma especial relevância por conservarem áreas que, por regra, eram sempre excluídas dos positivos, permitindo agora novas datações e interpretações das fotografias. Desenhado para oferecer uma pesquisa intuitiva e multinível, neste Stereo Raisonné é ainda apresentada uma cronologia que cruza todo o período de vida de Carlos Relvas (1838-1894) com factos históricos da fotografia, combinando documentação histórica (catálogos, anúncios de imprensa, notícias, correspondência) com galerias que revelam as imagens estereoscópicas que Relvas levou às exposições que o consagraram em Lisboa e em Paris, podendo estas ser visionadas em 3D com anáglifos (imagens para óculos com lente azul e vermelha) e com animações GIF.
A estereoscopia é uma tipologia esquecida da imagem fotográfica que sai beneficiada por projetos como este que trazem uma nova perspetiva sobre os primeiros anos da fotografia de Relvas e sobre o papel da estereoscopia no lançamento da sua carreira internacional. Entre os contributos de Carlos Relvas para o avanço técnico e para o reconhecimento artístico da fotografia esteve a sua paixão pela estereoscopia, uma técnica que cria a perceção da tridimensionalidade do espaço e que foi apresentada publicamente por Charles Wheatstone em 1838, tendo sido imediatamente aplicada à fotografia a partir da sua invenção. A fotografia estereoscópica foi marcante nos primeiros doze anos da atividade de Carlos Relvas como fotógrafo amador, tendo-o acompanhado nas suas primeiras participações nos salões de fotografia nacionais e europeus. Apesar de esta tipologia ser uma das mais representativas do seu trabalho fotográfico de monumentos, de paisagens nacionais e mesmo de retratos, é também uma das facetas menos conhecidas de Carlos Relvas, tendo as suas coleções de positivos e de negativos permanecido por estudar até à investigação que deu origem a este catálogo.
A investigação para este catálogo decorre de dois projetos de investigação financiados pelo CICANT e coordenados por Victor Flores desde 2017 e que permitiram a identificação - junto de coleções de fotografia tais como a da Casa dos Patudos em Alpiarça e da Cinemateca Portuguesa - de 784 vistas estereoscópicas de Carlos Relvas distintas (positivos e negativos), um número até aqui desconhecido e revelador da importância da estereoscopia para este fotógrafo da Golegã.
A apresentação do Carlos Relvas Stereo Raisonné será feita pelo historiador de fotografia Geoffrey Batchen, da Universidade de Oxford, na Conferência Internacional Stereo & Immersive Media no próximo dia 18 junho, pelas 19h (emitida por Zoom).