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Elas no poder

Assunção Cristas, Cristina Fontes Lima e Nelvina Barreto na luta pela igualdade de géneros

17.07.17 - 00h00

A Universidade Lusófona reuniu três mulheres de firmeza e determinação, que garantem fazer a diferença no mundo. Assunção Cristas, Presidente do CDS-PP, Cristina Fontes Lima, ex-Ministra de Cabo Verde e Nelvina Barreto, Líder Associativa da Guiné-Bissau, foram responsáveis por dar a voz e proclamar o equilíbrio e a igualdade de géneros, no 11º Seminário Internacional da RDP África, cujo tema foi "As Mulheres e a Política".

Embora a maior parte da população portuguesa seja constituída por mulheres, estas continuam a ser "mantidas em papéis secundários", a nível político, económico e social.

As mulheres e a carreira

A igualdade entre homens e mulheres está na lei, mas as coisas não funcionam desta forma, afirma Assunção Cristas.

Quando as mulheres vão a concursos públicos rapidamente conseguem conquistar posições. O que não acontece na política, que funciona com nomeações, escolhas e convites, feitos pelos homens, que inevitavelmente nomeiam homens.

Para a líder do CDS-PP as mulheres são esquecidas, inconsciente pelos homens, pelo facto de estas não conseguirem estar sempre presentes, nas reuniões fora do horário de trabalho ou nos domingos dedicados à ações políticas, uma vez que elas também têm um dever com a sua família.

Cristas afirma que as mulheres sofrem do chamado "Teto de Cristal", que consiste no facto das mulheres chegarem num certo ponto e já não conseguem ir mais além, impedindo assim que cheguem ao topo. Esta situação é originada pela multiplicidade de tarefas em que se envolvem, que origina pouca disponibilidade, e também pelo facto de serem muito dedicadas à família. Muitas mulheres excluem-se por não se acharem capazes de conciliar as duas áreas e por não terem com quem partilhar as tarefas domésticas.

"Eu acredito que se tivermos mais mulheres na política, certamente nós seremos capazes de ver melhor os dilemas de vários ângulos, encontrar soluções mais criativas, ter a capacidade de encontrar outras oportunidades e sobretudo, ter uma visão mais rica. Eu acredito que nada se faz sozinho, mas sim em equipa. E portanto, com homens, mulheres, mais velhos, mais experientes, com formações profissionais distintas, certamente seremos capazes de ter melhores resultados" - declarou.

Assunção Cristas lamentou o facto de não haver igualdade de oportunidades e que não haja uma lei que ajude a corrigir estas. "Acho que há um caminho feito, mas que está longe de estar concluído" - terminou Assunção Cristas.

A mulher e a sua posição na sociedade, direitos e igualdade de géneros

Nelvina Barreto, refletindo a sua experiência guineense, realçou que as mulheres estão expostas a todos os males que sofre a sociedade, são frequentemente vítimas de violência doméstica, violência sexual, mutilação genital, casamento precoce e forçado, assédio sexual nos locais de trabalhos, entre outras violações de direitos humanos.

Foi com muito pesar que declarou que, segundo o Inquérito de Indicadores Múltiplos (CICS) 2014, a Guiné-Bissau é um dos piores países do mundo para se ser mãe. "Isto deve-se a fraca cobertura nacional em termos de recursos humanos e financeiros no sector da saúde, a falta de informação e a não gratuitidade dos cuidados materno-infantil. Tudo isto resulta numa taxa de mortalidade materna extremamente elevada".

Os indicadores económicos e sociais da Guiné-Bissau, revelam situações difíceis vividas pelas mulheres guineenses: uma em cada 13 mulheres morre de complicações no parto; 37% das mulheres são sujeitas ao casamento precoce/forçado, cuja idade varia entre 12 e os 16 anos. 44% das mulheres são submetidas a mutilação genital, sendo o processo é feito em locais com péssimas condições sanitárias e sem acesso a anestesia, o que gera sérios problemas de saúde e morte.

Na Guiné-Bissau 67% dos analfabetos são mulheres e 48% são homens. Nelvina Barreto refere que os maiores culpados desta situação são as próprias famílias, que reservam um lugar privilegiado aos rapazes. A estes são lhes dado o acesso ao estudo, enquanto que, as meninas frequentam 2 ou 3 primeiros anos de escolaridade.

"Nas zonas rurais as mulheres representam 52% da força de trabalho no campo. São as primeiras a levantar-se e as últimas a deitar-se, depois de desempenhar múltiplas e duras tarefas durante o dia: desde cozinhar, carregar água, tratar do gado, cuidar dos filhos, e ainda depois desta longa jornada, assumir os seus deveres conjugais à noite. Não lhes sobrando nem tempo, nem energia, para qualquer outra atividade de ordem cívica ou social"- afirmou Nelvina Barreto.

O pilar da família

Mas nem tudo são más notícias. Foi com muito orgulho que a Líder Associativa declarou que, graças a sua eficiência e habilidade, a mulher guineense representa na sua grande maioria, o pilar e a principal força de trabalho nas respetivas famílias e comunidades.

"Hoje 23% das famílias guineenses são chefiadas por mulheres, sendo que nos grandes centros urbanos com a capital Bissau, esse número chega a subir para 31%" - continuou - "Outro fator curioso, é que o nível de incidência da pobreza tende a diminuir em agregados dirigidos por mulheres. Sempre que uma mulher chefia a família, graças a sua força e a capacidade de procurar soluções económicas, para satisfazer as necessidades da família, verifica-se que os níveis de pobreza decrescem visivelmente".

A luta das cabo-verdianas

Em Cabo Verde as raparigas são quem tem melhor aproveitamento escolar, comentou Cristina Fontes Lima, ex-ministra.

"Neste momento os rapazes são os que mais abandonam os estudos e têm menos aproveitamento. Portanto, temos desequilíbrio de género. A ideia de igualdade de género passa por garantir para que as duas sensibilidades, as duas metades da lua sejam efetivamente refletidas nas políticas públicas e na governação".

A ex-ministra de Cabo Verde partilhou com a audiência uma das batalhas pelos direitos da mulher, em que esteve envolvida: a lei da licença de maternidade.

A licença de maternidade no setor público era de 60 dias e no setor privado era só de 30 dias. Perante esta questão, as mulheres, mesmo sendo de partidos diferentes, juntaram-se e fizeram um movimento dentro da assembleia para demonstrarem o seu desagrado perante a lei. Numa primeira fase conseguiram que a licença de maternidade no setor privado aumentasse para 45 dias, e mais tarde conseguiram que atingisse os 60 dias.

"É o que dá ter mulher a mais no governo" - brincou.

Yauri Neto
Comunicação Institucional
Notícias Lusófona

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