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A prática religiosa no "desconfinamento" progressivo

Comunicado do Observatório para a Liberdade Religiosa sobre a prática religiosa no "desconfinamento"

21.04.20 - 00h00

Aparentemente ultrapassada a fase pandémica mais aguda e já na perspetiva de uma retoma gradual e progressiva da sociabilização, o Observatório para a Liberdade Religiosa (OLR) regista a forma madura e discernida como, genericamente, os grupos religiosos se adaptaram em Portugal. Apesar de episódicas situações que revelaram comportamentos inadequados face às recomendações das autoridades de saúde, houve um elevado sentido de cidadania e responsabilidade, das lideranças às comunidades.

Foram semanas de provação para todas as comunidades religiosas. Recorde-se o caso das comunidades cristã e judaica, que atravessaram o calendário muito sensível da Quaresma e da Páscoa. A comunidade islâmica entrará dentro de dias no Ramadão, que convoca a oração comunitária.

Prevaleceu nestas semanas a atitude socialmente racional, apesar do tempo comunicacional ter ampliado ansiedades apocalíticas, de incerteza, e assistimos a momentos religiosos simbolicamente inéditos, em que a ausência de crentes, o silêncio e o espaço vazio, o distanciamento familiar e comunitário, reavivaram e valorizaram o sentimento de pertença e de identidade religiosa.

Sem se imiscuir no debate técnico-constitucional, avaliando o estado de emergência em Portugal sob os vários pontos de vista que a reflexão exige, o OLR entende que foi respeitado o exercício da liberdade religiosa, com necessárias, mas justificadas, limitações ao culto.

Lembramos que as lideranças dos grupos religiosos em Portugal, como a Igreja Católica (Conferência Episcopal Portuguesa), as igrejas evangélicas (Aliança Evangélica Portuguesa), as igrejas protestantes (COPIC), a Mesquita Central de Lisboa, os salões das Testemunhas de Jeová, a União das Igrejas Adventistas do Sétimo Dia, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, templos hindus (Comunidade Hindu de Portugal) e budistas, para dar apenas alguns exemplos, anteciparam-se ao próprio estado de emergência ou aplicaram, desde a primeira hora, as medidas adequadas para atenuar os efeitos da pandemia, com o encerrando ao público dos respetivos espaços, tendo dado conta destas medidas publica e expressamente.

Houve, inclusive, prévias consultas informais, através do denominado Grupo de Trabalho Inter-religioso (uma plataforma que junta representantes das várias confissões religiosas), que, na prática, resultaram na opção praticamente simultânea, embora não conjunta, de encerrar os espaços de culto.

Este mês e meio revelou o caráter insubstituível e inegável da dimensão religiosa na sociedade e na vida dos cidadãos que se dizem crentes, quer pela reinvenção e/ou adaptação do encontro comunitário, por via das plataformas digitais, ampliando, com novos contornos, o sentido de pertença religiosa, quer pela cidadania exercida em ações concretas de solidariedade.

O governo português iniciou contactos para preparar o levantamento das restrições às confissões religiosas. É evidente que esta retoma será ainda muito limitada e não se prevê para breve o regresso às formas de sociabilização que tínhamos antes da pandemia.

O constrangimento continuará a ser sentido na vivência comunitária, com impacto nas comunidades religiosas, onde dimensões como o afeto, a partilha ou a proximidade física são características, nalguns casos até carismaticamente determinantes.

No momento em que se discute o "desconfinamento" social, o OLR sugere às comunidades religiosas que, por um lado, revejam e, se possível, adaptem celebrações e convívios, evitando proximidades de risco, e, por outro, procurem sintonizar-se, salvaguardando as características próprias, mas partilhando conhecimento, estratégias e modelos de abertura que mantenham a responsabilidade e criatividade já manifestadas.

Este "desconfinamento" progressivo exigirá também apoios em rede, das autarquias e do estado central, facilitando, se tal for solicitado e necessário, a sustentabilidade e as logísticas de segurança na frequência dos espaços religiosos, por exemplo, na aquisição ou fornecimento de máscaras comunitárias e na adequada higienização.

Sediado na área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona, o OLR é composto por um grupo de investigadores, empenhados em analisar proativamente o fenómeno e a vivência religiosa, e que, ao longo deste período de confinamento, vêm também intervindo no espaço público da opinião e da reflexão.

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