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O Terramoto que aí vem

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Muita tinta já correu sobre o advento da inteligência artificial e o seu impacto na indústria e na sociedade.

02.09.22 - 08h28
João Canto

João Canto


Muita tinta já correu sobre o advento da inteligência artificial e o seu impacto na indústria e na sociedade. Curiosamente, uma das respostas a este terramoto, que aí vem, parece ser o valorizar de uma superespecialização do ensino e uma repetição, até à exaustão, de um conjunto de trivialidades aplicacionais (milimetricamente diferentes umas das outras).

Muita tinta já correu sobre o advento da inteligência artificial e o seu impacto na indústria e na sociedade. Curiosamente, uma das respostas a este terramoto, que aí vem, parece ser o valorizar de uma superespecialização do ensino e uma repetição, até à exaustão, de um conjunto de trivialidades aplicacionais (milimetricamente diferentes umas das outras). Note-se que, o objectivo primeiro, deste novo ciclo de automação, é, precisamente, o de substituir os seres humanos nas tarefas de repetição de processos, cada vez mais complexos, em todas as áreas.

Desta forma, não só não estamos a responder ao desafio, como estamos a "tapar o sol com a peneira". De facto, a grande valência do século XXI, será a capacidade de resolver problemas complexos, recorrendo a um quadro de conceitos científicos avançados, que permita alavancar a criatividade humana.

Para navegar nesta tempestade, um curso superior, na área das engenharias, deve munir o graduado destes conceitos científicos avançados, nomeadamente, nas ciências de base como a Matemática, a Física, a Química ou a Biologia. São estas as grandes armas que permitem combater o obscurantismo. É certo que, as matérias mais aplicadas são mais apelativas, especialmente, porque o resultado do esforço desenvolvido é rapidamente observado.

No entanto, são as matérias mais profundas, cujo fruto é mais tardio, que permitem expandir em larga medida as nossas capacidades. Não nos iludamos, este estudo requer esforço e dedicação: o trabalho de uma vida, de autênticos gigantes, não pode ser apropriado sem dificuldades (tal ideia é uma arrogância intelectual).

Assim, é necessário promover a humildade para aceitar a falha, o erro, como partes insubstituíveis da vida. O próprio processo de tentativa e erro é fundamental para o método científico. Mais ainda, uma certa ideia de compartimentação do conhecimento, não tem aqui lugar. Pelo contrário, quanto mais se progride, maior é a necessidade de utilizar os temas anteriores, o que pressupõe o seu domínio (e não o seu descartar).

A serenidade é fundamental para alicerçar uma compreensão mais profunda dos temas e das relações entre eles, o que, por inerência da condição humana, apenas surge com o tempo (e a dedicação).

Falharmos aqui, provocará um estreitamento do conhecimento, que amputará os graduados das ferramentas elementares para pensar e resolver problemas novos. Deixaremos de ser capazes de ver a floresta e passaremos apenas a ver um pouquinho da casca, de uma das árvores.

João Canto
Diretor da Licenciatura em Engenharia Eletrotécnica na Universidade Lusófona

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