Rui Ribeiro reflete sobre o atual universo digital onde a diversidade de pensamento é substituída pela homogeneidade do algoritmo
09.10.25 - 18h35
Rui Ribeiro
Somos expostos a um universo digital onde a diversidade de pensamento é substituída pela homogeneidade do algoritmo. O resultado é perverso: acreditamos que controlamos a informação, quando na realidade é a informação que nos controla a nós.
George Orwell escreveu que “ignorância é força”. Talvez nunca essa frase tenha sido tão atual. Vivemos uma era onde a abundância de informação não nos torna mais conscientes, apenas mais confortavelmente condicionados. Temos acesso a tudo, mas compreendemos cada vez menos. E o mais preocupante é que este novo modelo de “ignorância inteligente” surge envolto em tecnologia, algoritmos e IA — ferramentas que prometem libertar-nos, mas que subtilmente nos treinam a pensar menos.
A capacidade de pensar criticamente, de discutir ideias com quem pensa diferente e de aprender com o dissenso é um exercício cada vez mais raro. Hoje, um simples debate entre amigos sobre política, religião, economia ou ciência transforma-se rapidamente num campo de batalha digital. Já não se discute para compreender, discute-se para vencer e por vezes é comum assistir a conversas de pessoas a globalmente verbalizarem o mesmo, mas como já não se ouvem cada um está no seu canto aos gritos. As pessoas já não sabem discutir! E quem ousa divergir é empurrado para fora do grupo, num processo social tão eficaz quanto invisível. A aprovação substituiu a reflexão.
Rui Ribeiro
Professor e Gestor de Sistemas de Informação. Diretor Executivo LES Lusófona Executive School
Fonte: Jornal SOL