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IA: usamos robôs ou seremos nós os robôs?

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É necessário, mais que nunca, saber potenciar as capacidades humanas e não substituí-las pela IA.

30.01.24 - 00h10
Rui Ribeiro

Rui Ribeiro


A Inteligência Artificial veio para moldar o futuro, pelo que importa saber como potenciar, e não substituir, a capacidade única de pensar e agir do ser humano.

Nestas últimas semanas, quer a dar aulas, quer em conversas com alguns amigos, maioritariamente de áreas tecnológicas, veio à discussão o tema da Inteligência Artificial e a pressão que está (e estará) a criar na humanidade, nos próximos anos.

A transformação impulsionada pela Inteligência Artificial (IA) é inegável, mas à medida que exploramos as suas capacidades, surge, consciente ou inconscientemente, uma dualidade no pensamento sobre o fantástico brilhantismo dos benefícios potenciais e a angústia dos desafios inerentes, chegando muitas vezes a ser assustadora a imprevisibilidade dos riscos mais obscuros que poderá trazer.

Além das considerações sobre a capacidade de manter a capacidade de pensar e a análise crítica perante desafios do dia a dia, mas também no pensamento filosófico e de estratégia de futuro, é essencial abordar as implicações práticas que a IA terá (já tem?) sobre alguns pilares fundamentais no futuro socioeconómico: emprego, eficiência e autonomia humana.

Emprego a desaparecer ou a transformar-se

A revolução da IA traz consigo o espetro da automação e a perspetiva de uma significativa perda de empregos. Recentemente, foi partilhado pela Diretora-Geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) que, entre 40% a 60% dos empregos, em países desenvolvidos e em mercados emergentes, iriam ser afetados pela automação trazida pela IA, levantando a sérios riscos sobre desemprego em massa, pelo que importa preparar requalificações que permitam às pessoas e empresas transformar riscos em oportunidades.

Também o World Economic Forum, no seu relatório “Job of the Future” de 2023, refere que cerca de 23% dos empregos serão afetados por alterações estruturais, perdendo-se cerca de 2% dos empregos até 2027. Ambos estudos refletem, acima de tudo, que a desigualdade económica, em ascensão, pode agravar-se à medida que as máquinas assumem funções tradicionalmente desempenhadas por seres humanos.

Assim, a capacidade de criar planos de ação de investimentos em novas formações de requalificação de humanos em idade média laboral, tal como em novos modelos de educação, são essenciais, não para bloquear a inevitabilidade da IA, mas para transformar o desafio em oportunidade de ganhos de produtividade e dinamismo criativo dos humanos.

Agilidade e eficiência na automação

Um facto subjacente à evolução tecnológica atual é que a IA promove a agilidade e eficiência por meio da automação. As tarefas rotineiras passam a ser executadas com precisão e velocidade incomparáveis, permitindo que os seres humanos se concentrem em atividades mais complexas e criativas.

A produção de dados, por processos de transformação digital, traz aumento da produtividade e melhoria da qualidade do trabalho, tornando-se tangíveis pelo fenómeno de capacidade de produção de dados automática nas tarefas quase 100% digitalmente realizadas, reforçando assim a noção de que a IA pode ser uma aliada valiosa na evolução das capacidades laborais.

Risco de preguiça cognitiva

O ser humano é intrinsecamente preguiçoso, por procurar estabilidade, rotinas e previsibilidade,, pelo que a rapidez com que a IA partilha e entrega respostas é um fenómeno adorado. Em vez de procurar, “dão-nos imediatamente a resposta!”. Mas, aquilo que parece ser o Santo Graal, para muitos, pode desencadear uma preocupante “preguiça cognitiva”. A dependência excessiva de soluções instantâneas pode minar a motivação para o pensamento crítico e a resolução independente de problemas.

Ao usarmos robôs de uma forma direta, arriscamo-nos a caminhar para sermos nós próprios os robôs, comandados por outros robôs! O desafio é encontrar um equilíbrio, incentivando a colaboração entre humanos e IA, sem comprometer a capacidade humana de pensar de forma independente. E pensar é também treinar e aprender a pensar, e isso faz-se investindo em educação.

Em síntese, a (in)capacidade de pensar com a inteligência artificial não se restringe apenas ao espetro cognitivo, estende-se também às esferas económica e ética. A busca por uma coexistência harmoniosa obriga a uma reflexão sobre como podemos maximizar os benefícios da IA, preservando simultaneamente a dignidade e autonomia do trabalho humano. Encontrar esse equilíbrio não será fácil, pela velocidade tecnológica existente, pelos desafios éticos e de ganância humana inevitáveis.

Como diz a Diretora-Geral do FMI: “é preciso abraçá-la, ela está a chegar”, pelo que a IA veio para moldar o futuro, impossível de eliminar, pelo que importa saber como potenciar, e não substituir, a capacidade única de pensar e agir do ser humano.

 

Docente Rui Ribeiro
Diretor Executivo LISS – Universidade Lusófona Information Systems School

Fonte: O Jornal Económico

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