
Há caracóis únicos na Arrábida
Professores e Alunos da Licenciatura em Biologia desenvolvem investigação na Serra da Arrábida
28.12.15 - 11h05Texto retirado do Jornal Público
Chama-se Candidula arrabidensis e é uma espécie nova de caracol, descoberta há cerca de um ano por um casal de cientistas britânicos residente em Portugal, Geraldine e David Holyoak. Encorajados por já terem encontrado uma nova espécie de caracol na região de Leiria em 2008, resolveram fazer um estudo detalhado dos caracóis do género Candidula em Portugal. E foi assim que descobriram que um pequeno caracol que vive na Serra da Arrábida era diferente dos outros caracóis de Portugal - e que só existe neste local.
Porém, o Candidula arrabidensis não é o único caracol exclusivo da Arrábida. Há um outro, o Candidula setubalensis, que tinha sido descrito no século XIX por Louis Pfeiffer, um médico e naturalista alemão. Entre muitas plantas e moluscos que descreveu durante as suas expedições científicas pela Europa e pelas Antilhas, Louis Pfeiffer descobriu este caracol muito especial no próprio castelo de Setúbal e que, tal como Candidula arrabidensis, tem menos de um centímetro de diâmetro, mas a concha é esculpida.
Nos últimos tempos, têm ido biólogos para o terreno estudar atentamente as duas espécies de caracóis. Querem conhecer a sua área de distribuição e o seu estatuto de conservação. "Espécies com distribuição limitada podem correr maiores riscos de conservação", diz Gonçalo Calado, um dos líderes do projecto.
Gonçalo Calado é biólogo marinho e especialista em caracóis marinhos, mas quando foi desafiado pelo biólogo Francisco Moreira a desenvolver um projecto de investigação que incluísse os alunos começou a estudar caracóis terrestres. Ambos são docentes da Universidade Lusófona, em Lisboa. "A ideia foi do Francisco Moreira. Queríamos encontrar um trabalho que envolvesse os nossos alunos num verdadeiro trabalho de investigação e que produzisse conhecimento", conta Gonçalo Calado. "Seria mais difícil estudarmos caracóis marinhos nas aulas, teríamos de fazer mergulho", diz, rindo-se.
Assim, a equipa que está a fazer os estudos de campo não é um grupo comum de investigadores. É formada por estudantes e professores da licenciatura de Biologia, e o trabalho está integrado nas suas aulas de Ecologia e de Biologia da Conservação.
Numa primeira fase do estudo, foi verificada a área de distribuição dos dois caracóis, por toda a zona do Parque Natural da Arrábida, desde Palmela até ao Cabo Espichel, em quadrículas de dois por dois quilómetros. "Andámos todos à procura, nos muros, por debaixo das pedras...", conta Gonçalo Calado. "Procurámos caracóis vivos ou mesmo só as conchas, que podem permanecer muito tempo em zonas calcárias como a Arrábida " até dezenas de anos.¿
Confirmaram que a "nova" Candidula arrabidensis existe por toda a serra, mas tiveram uma surpresa: a Candidula setubalensis já não vive na zona onde foi descrita, o castelo. "Agora já nem conchas lá havia", lamenta Gonçalo Calado. "Por agora, sabemos que a área de distribuição de Candidula setubalensis se estende por uma fina faixa de 20 quilómetros " desde o Portinho da Arrábida até enseada da Baleeira, quase no cabo Espichel. A faixa é muito fina, às vezes com menos de 100 metros de largura, mas estamos a aferir tudo."
Depois de determinadas as áreas dos dois caracóis, passou-se ao estudo da sua abundância, para determinar o estado de conservação. "Fazemos quadrados de cinco por cinco metros. Passamos a área a pente fino, levantamos todas as pedras..."
Ler texto na integra no Jornal Público
Consulte também o artigo científico na revista PLOS ONE que deu origem ao artigo no Público: Conservation Status of a Recently Described Endemic Land Snail, Candidula coudensis, from the Iberian Peninsula
Outras Notícias
- Universidade Lusófona acolheu VI WCCES Symposium sobre futuros da educação
- Jovens Investigadores do CICANT reúnem-se na primeira Writing Jam no Porto
- Doutoramento aborda uma nova possibilidade para o "Museu como Tecnologia Social"
- Intervenções no Edifício D - Interdições de Espaço e Imediações
- Gestão Educacional e Valorização da Profissão Académica